O candidato do PSL a presidente, Jair Bolsonaro, afirmou nesta terça-feira (28), em entrevista ao Jornal Nacional, que um criminoso não pode ser tratado como “um ser humano normal” e, por isso, se um policial “matar 10, 15 ou 20 com 10 ou 30 tiros cada um” deve ser condecorado e não processado.
Bolsonaro foi o segundo entrevistado da série do JN com presidenciáveis. O primeiro foi Ciro Gomes (PDT). Nesta quarta (29), será a vez de Geraldo Alckmin (PSDB), e, na quinta, de Marina Silva (Rede). A ordem das entrevistas foi determinada por sorteio. Luiz Inácio Lula da Silva, presidenciável do PT, está preso e proibido pela Justiça de dar entrevistas.
O candidato do PSL foi questionado pelo jornalista William Bonner sobre ter declarado que violência se combate com mais violência ainda. “Como o senhor acha que os brasileiros que vivem nessas comunidades dominadas por traficantes, que são vítimas desses tiroteios tão frequentes, como é que elas recebem uma afirmação como essa sua?”
O presidenciável defendeu “ir com tudo para cima deles” desde que moradores de comunidades estejam fora da linha de tiro.
“Temos que fazer o quê? Em local que você possa deixar livre da linha de tiro as pessoas de bem da comunidade, ir com tudo para cima deles. E dar para o agente de segurança pública o excludente de ilicitude. Ele entra, resolve o problema. Se matar 10, 15 ou 20, com 10 ou 30 tiros cada um, ele tem que ser condecorado [o policial] e não processado.”
Polêmica sobre diferença salarial
Bolsonaro foi confrontado pela jornalista Renata Vasconcellos com afirmações que fez em outros momentos, segundo as quais não teria o que fazer como presidente da República para mudar o quadro de diferença salarial entre homens e mulheres. Ela lembrou que o candidato já afirmou que não empregaria uma mulher com o mesmo salário de um homem.
“Ou seja, o senhor se solidariza pessoalmente com os empregadores que compartilham dessa desigualdade salarial. Como explicar isso às mulheres?”, indagou a apresentadora.
Depois de começar responder, Bolsonaro disse que, “com toda a certeza” havia uma diferença de salário entre os dois jornalistas da bancada do JN. Nesse instante, William Bonner se dirigiu a Bolsonaro, mas Renata Vasconcellos interrompeu a ambos.
Renata Vasconcellos se dirigiu ao candidato e disse: “Eu vou interromper vocês dois. Eu poderia, até como cidadã, e como qualquer cidadão brasileiro, fazer questionamentos sobre os seus proventos [de Bolsonaro] porque o senhor é um funcionário público, deputado há 27 anos e eu, como contribuinte, ajudo a pagar o seu salário. O meu salário não diz respeito a ninguém. E eu posso garantir ao senhor, como mulher: eu jamais aceitaria receber um salário menor que um homem que exercesse as mesmas funções e atribuições que eu. Mas agora eu vou devolver a palavra ao senhor, para o senhor continuar o seu raciocínio.”
O candidato afirmou que a solução para a desigualdade salarial entre homem e mulher tem de ser dada pelo Ministério Público do Trabalho e pela Justiça.
“Já está na CLT, a lei é boa. Não tem o que discutir. Se a lei não está sendo cumprida, a quem compete resolver? À Justiça e ao Ministério Público do Trabalho”, disse.
Ele afirmou que nunca defendeu a desigualdade, mas, como presidente, não terá “ingerência” sobre o Ministério Público do Trabalho.
“Por que o Ministério Público do Trabalho não age quanto a isso? É só agir. Eu não tenho ingerência sobre o Ministério Público do Trabalho. Isso está na CLT. É só as mulheres denunciarem. Acabou o assunto”, declarou.
Emprego
Indagado sobre geração de empregos, Bolsonaro fez referência ao que diz ter ouvido de empresários em palestras pelo Brasil – que a ampliação de direitos trabalhistas pode resultar em aumento do desemprego.
“O senhor tem dito que, para ter mais emprego, é preciso ter menos direitos trabalhistas. Eu pediria ao senhor que explicasse: num governo Bolsonaro, quais direitos trabalhistas os brasileiros deixarão de ter?”, perguntou William Bonner.
“Eu tenho falado em todas as reuniões que eu faço há quase quatro anos, em palestras que no Brasil, que a classe empregadora – são os comerciantes, industriais, os empresários – têm dito o seguinte, eles têm dito seguinte: um dia o trabalhador terá que decidir entre menos direitos e emprego ou todos os direitos e desemprego. Por que isso? O custo no Brasil.”
Bonner questiona: “O senhor verbaliza o que dizem os empregadores, na condição de candidato à Presidência?” E Bolsonaro responde: “Sim, sim eu tenho falado para eles, você tem que demonstrar isso”.
Paulo Guedes
Bolsonaro jurou “fidelidade eterna” ao economista Paulo Guedes, responsável pela parte econômica da plataforma de campanha.
Anteriormente, ele já afirmou que não entende de economia e que as decisões nessa área serão tomadas por Guedes. Bolsonaro já disse que Guedes será o ministro da Economia – ele pretende fundir os atuais ministérios da Fazenda e do Planejamento.
“É quase que um casamento. Eu estou namorando o Paulo Guedes há um tempo e ele a mim também. Nós, Bonner, somos separados. Até o momento da nossa separação, não pensamos em uma mulher reserva. Se isso vier a acontecer, por vontade dele, ou minha, paciência. O que eu tenho com ele é um compromisso enorme para o Brasil. Temos sim um filtro chamado Câmara e Senado. Nem tudo que ele quer ou que eu quero poderemos aprovar”, declarou.
“Quando nós nos casamos”, disse, em referência a Guedes, “nós juramos fidelidade eterna”. Ele afirmou que não crê em uma separação.
“Duvido que esse divórcio venha a acontecer. Se vier a acontecer, não será por um capricho meu ou um capricho dele”, declarou.
Outros temas
Família na política – “Geralmente quando se fala em família na política são famílias enroladas em atos de corrupção. Minha família é limpa na política. Sempre integrei o baixo clero em Brasília. Se tivesse uma forma de ocupar novos postos, certamente estaria na lava jato. Mantive minha linha. Inclusive citado por Joaquim Barbosa no mensalão como único deputado da base que não foi comprado. E também na questão da JBS-Friboi, único deputado que recebeu do partido recursos oriundos da JBS e devolveu.”
Patrimônio – “Nunca recebi dinheiro de empresa para campanha, sempre fiz a campanha usando aquilo que consegui ao longo do mandato, as minhas conquistas. Tenho apoio popular para isso, fiz um trabalho reconhecido pelo povo como muito bom, se não aprovei projetos, evitei que projetos ruins fossem adiante.”
Auxílio-moradia – “Eu fui para um apartamento novo agora porque precisava de um espaço maior, meu apartamento tinha 70 metros quadrados e tinha as despesas,. […] Nunca tive cargo no governo, nunca tive secretário de município indicado por mim. Nada. Sempre fui parlamentar preocupado com meu mandato e o meu voto é algo sagrado. Meu voto é a marca do meu trabalho e respeito. […] eu estava num cubículo em Brasilia e todos os recursos que recebi em Brasilia é para manutenção do mandato para pagar IPTU do imóvel, condomínio e ficava quase no zero a zero. Meu apartamento está à venda. Quem quiser comprar, está à disposição. Agora, estou num funcional.”
Paulo Guedes – “Primeiro, o Lula que não entendia de economia. Dilma Rousseff que entendia de economia, levou o Brasil ao caos. Eu parto de um princípio que você tem que confiar nos homens e nas mulheres. Eu às vezes me pergunto o que o senhor Paulo Guedes viu em mim. Ele já me respondeu: ‘Vi sinceridade e vi confiança’. Eu tenho que confiar nele. Como tenho que confiar no meu ministro da Justiça, o da Defesa, o da Agronomia, entre outros. E eu sou o único destes que estão aí com chances de chegar que vai ter isenção para escolher os seus ministros. Não vai estar preso a indicações políticas. Porque os ministros geralmente trabalham para os seus partidos políticos. E eu tenho essa independência. E o Paulo Guedes é um economista reconhecido dentro e fora do Brasil.”
Direitos trabalhistas – “Esses direitos estão previstos na Constituição. Cláusulas pétreas, nenhum pode ser retirado. Nós temos que desonerar a folha de pagamento. Temos que desburocratizar, desregulamentar muita coisa. Evitar que uma empresa leve em média 100 dias no Brasil. Temos que fazer para ajudar.”
Desigualdade salarial entre homens e mulheres – “A questão de salário a questão da competência, na CLT já se garante isso: o salário compatível desde que não haja mais de dois anos de tempo de serviço entre um e outro. […] Eu estudei. […] Por que o Ministério Público do Trabalho não age no tocante a isso daí? É passar a agir. Mas eu não tenho ingerência no Ministério Público do Trabalho e isso está na CLT. É só as mulheres denunciarem. O MP do Trabalho vai lá e resolve o assunto. O Ministério Público do Trabalho pode ser questionado. Eu estou vendo aqui uma senhora e um senhor. Não sei ao certo, mas com toda certeza há uma diferença salarial aqui. Parece que é muito maior para ele do que para a senhora. São cargos semelhantes, são iguais. […] Vocês vivem em grande parte aqui de recursos da União. São bilhões que recebem o Sistema Globo de recursos da propaganda do governo. Mas vamos lá. Não preguem essa pecha em mim que eu defendo isso porque se tivesse defendido um dia teria discurso meu na Câmara. Nunca teve discurso, nenhum projeto meu nesse sentido. Não existe. Esse rotulo foi pregado em mim 2010 2012 quando dei entrevista ao zero hora. […] Já está na CLT. A CLT já garante salário igual para homem emulher. Não tem que discutir. É a lei, quando a lei não é cumrpida, a quem compete resolver? É à Justiça, é ao Ministério Público do Trabalho.”
Homofobia – “Isso começou a acontecer em novembro de 2010. Até aí eu era uma pessoa normal. Passando no corredor da Câmara, vi algo esquisito. […] Estava um pessoal vestido a caráter e perguntei ao segurança se iria haver alguma parada de orgulho gay na Câmara. Tomei conhecimento. Eles tinham acabado o 9º seminário LGBT infantil e estavam discutindo ali, comemorando o lançamento de um material para combater a homofobia conhecido como kit gay. Estava este livro. Na biblioteca das escolas tem. É um livro para crianças. […] eu estava defendendo as crianças em sala de aula em todos esses momentos, em todos esses momentos. Um pai não quer chegar em casa e encontrar o filho brincando de boneca por influência da escola. Pronto. Não tenho nada contra o gay, tenho contra material escolar em sala de aula. Tem muito gay que é pai, mãe e concorda comigo. As declarações foram fortes, peço desculpas, mas foi em momentos de temperatura alta em comissões e que quase houve vias de fato. […] Peço a você que está em casa que pesquise na internet o plano nacional de promoção da cidadania LGBT.”
PEC das Domésticas – “Eu fui o único que votei contra. Em dois turnos. Então não houve erro da minha parte. Foi para proteger o que eu defendia. São os meus direitos, mas de forma gradativa. Levou milhares de senhoras e homens que exerciam atividade doméstica para serem diaristas. E como diaristas não estão sequer grande parte deles recolhendo para a Previdência. Muita gente teve que demitir porque não tinha condição de pagar. Mulheres perderam o emprego exatamente pelo excesso de direito.”
Segurança pública – “Se o bandido tá com um 762 atirando, o policial para o lado de cá tem que ter uma .50. Se ele tá com uma .50, você tem que ter um tanque de guerra do lado de cá. Eu já fui vítima de violência. Bonner, você também. Infelizmente. Só Deus sabe o que passou na tua cabeça sobre a sua integridade, sobre a minha integridade. Esse tipo de gente, você não pode tratá-lo como se fosse um ser humano normal, tá? Que deve ser respeitado, que é uma vítima da sociedade. Não podemos deixar os policiais continuarem morrendo nas mãos desses caras. O Exército Brasileiro acabou de perder três jovens garotos para o crime, agora. Temos que fazer o quê? Em local que você possa deixar livre da linha de tiro as pessoas de bem da comunidade, ir com tudo para cima deles. E dar para o policial, dar para o agente de segurança pública, o excludente de ilicitude. Ele entra, resolve o problema. Se matar 10, 15 ou 20, com 10 ou 30 tiros cada um, ele tem que ser condecorado [o policial] e não processado.”
Militares – “Isso aconteceu em 64 e na forma da lei e da Constituição da época. Os militares chegaram lá, aliás, chegaram lá, não, foram eleitos, o presidente por cinco mandatos. As palavras dele [candidato a vice, general Mourão], em consonância com o que grande parte da sociedade fala, teve coragem de externar. Nem eu nem ele queremos nada pela força. […] No meu entender, ele […] Deixa os historiadores para lá. Fico com o Roberto Marinho porque em outubro de 1964 disse: ‘Participamos da revolução democrática de 1964 identificados com os anseios nacionais de perseguição às instituições democráticas ameaçadas pela radicalização ideológica, distúrbios sociais, greves e corrupção generalizada’. Roberto Marinho foi ditador ou democrata? É história.”